segunda-feira, 22 de junho de 2020

Desafio de escrita "Lucy" - por Fabi Sanchez

Olá, caros leitores!

        O desafio de escrita desta semana, pra mim, é extremamente difícil, pois acredito que só conseguimos escrever aquilo que somos, mesmo que seja inventado, mas em algum momento, mesmo que seja naquele momento de bum criativo, aquela ideia fez parte de nós.
        Porem, colocar-se no lugar do outro, mesmo que seja um outro inventado, é algo extremamente importante no papel de construção de personagem. É preciso pensar em como seria tal pessoa, com todos os detalhes, assim como se fosse descrever você mesmo. 
        Como vocês sabem, meu primeiro livro está para sair dentro de um mês, mas já estou escrevendo o segundo, pois é, vida de quem escreve assim, é um turbilhão de ideias sem fim querendo ir pro papel, então resolvi trazer pra esse desafio um trechinho que apresenta a protagonista do romance que estou escrevendo: Lucy.


Lucy

Só estava ali porque eu não aguentava mais viver aquela vida, mendigando amor e ganhando moedas em troca. 

Não é justo buscar intensidade e achar migalhas. Restos de pessoas que te buscam para um alívio momentâneo, seja ele de forma luxuriosa ou violenta. Eu quero mais. Quero me livrar dessa vida podre e pobre.

Uma das meninas me indicou a Sarah, dizendo que ela havia acertado os clientes da semana , quanto ganharia com eles livremente e como poderia extorquir um pouco mais. Parecia que as cartas de Sarah nunca mentiam.

A saleta era pequena. Todo o veludo e os tons de vermelho e dourado da manta que cobria o sofá e nas cortinas pesadas da única janela e da porta do próximo cômodo traziam um tom intimidador, rico e confortavelmente pesado, parecendo fazer com que eu não apenas sentasse no sofá, mas me acentasse por ali, querendo fazer parte de todo o aconchego do veludo. 

A cortina do cômodo ao lado se entreabriu para revelar, encostada na parede, uma pele de canela quente envolta de cabelos negros exuberantes, olhos de brilho estelar que ofuscavam as argolas de suas orelhas e pulsos, assim como o longo vestido azul céu que contornava justamente um lindo busto e se abria juntamente com o quadril largo. Era isso o que eu desejava: a beleza!

- Luciléia?

- Poderia me chamar de Lucy?

- Claro, entre, Lucy!

O quarto era iluminado como um raio de sol. E isso também me trazia conforto, de forma diferente da saleta anterior, mas me confortava pois me levava a um novo ânimo. Agora eu respirava o lindo lustre dourado, as paredes brancas, as rosas vermelhas dentro dos dois vasos acobreados, a mesa redonda com a toalha cor de ouro e o baralho de verso vermelho.

        - Sente-se querida, e seja bem-vinda ao meu mundo!

        A magia saia de sua boca, eu podia sentir suas palavras me penetrando como nunca nada havia me penetrado antes.

        - Veio me ver. É porque deseja algo.

        - Sim.

     -Claro que sim - e sentou-se na cadeira da frente, tomando o baralho em suas mãos e embaralhando-o - Corte-o em três montes.

        Com a mão esquerda cortei o monte de cartas para a direita e depois para a esquerda.

        - Uhmmm, você é canhota, meu bem?

        - Não.

        - A magia está no seu sangue, seu lado esquerdo te domina, mas tendenciosamente te leva para um caminho positivo, mesmo que você não queira - ela falava para dentro de meus olhos - não há como fugir da magia, ela está no seu sangue, a magia dourada.

        Eu lidava com dinheiro todos os dias e sabia ler as entrelinhas de uma conversa. Coloquei sobre a mesa as três moedas que a consulta exigia. Ela colocou a mão sobre as moedas.

        - Para mim, é uma honra ter uma irmã da magia do ouro na minha mesa, vamos deixar esse nosso instrumento de poder aqui, sobre a mesa. Ele pode ser meu, ou voltar a ser seu. Se por acaso eu descobrir nas cartas seu presente, fico com as moedas e te digo um pouco sobre seu futuro próximo, porem se eu errar, você toma as moedas para si e vai embora como se nunca tivesse estado aqui. Temos um acordo?

        - Sim.

        - Muito bem.

        Sarah pegou as cartas e as juntou num único monte. Tirou a de cima e a virou, colocando-a no centro da mesa, depois a segunda do lado direito e a terceira do lado esquerdo. Eram cartas diferentes das que se jogavam na taberna. Haviam figuras de pessoas e muitas cores.

        - Está vendo esta carta aqui? - e apontou para a carta do meio com seu dedo delicado de unha comprida e vermelha bem feita. Acenti com a cabeça. 

        - O que você vê?

        - Uma rainha.

        - Esta é você. Você é a imperatriz, dona de si mesma, de toda a sensualidade, do amor, da fartura, da riqueza, todos ficam aos seus pés quando você se impõe. Dentre as outras mulheres, você é a mais próspera e tem o poder em suas mãos, e sabe que o tem. Também sabe que o mundo pode estar aos seus pés, só não entende ainda ao certo como alinhar alguns fiapos que estão soltos. Você já esteve grávida, mas não o quis. A fertilidade é sua força e você sabe como dominá-la. Assim como sabe usar sua sensualidade para lhe trazer tudo o que precisa. Sua beleza é sua arma de trabalho, com ela você tem tudo o que tem: dinheiro, prazer, homens...

Como ela sabia? Aquela carta havia sido desenhada para mim? Eu era uma rainha, me sentia uma rainha, mas num mundo sujo, um mundo que não era meu, o mundo da taberna noturna.

- E esta outra carta, a minha esquerda, percebe?

- Sim - na carta havia o desenho de um homem meio alienado a tudo o que havia ao seu redor. Ele parecia andar num mundo que não era seu.

- Minha querida, este é seu presente. Não se engane e nem se desanime. O que você tem hoje é apenas o começo de tudo o que você tem para conquistar. Tudo ao seu redor parece estranho. Você não entende porque não é feliz, não minha querida, na verdade os outros que não te entendem, mas isso não é um problema, pois este momento é realmente um momento de não se envolver com ninguém, pois você está dentro de seus próprios sonhos para o futuro e você sabe que, para realizá-los, basta ser a rainha que sempre foi.

Uau - pensei comigo mesma. Ela sabia. Seja lá o que fosse essa tal magia do ouro, era magia verdadeira, eu a sentia e ela me sentia.

- As moedas são suas, Sarah.

- Eu não tinha dúvidas de que seriam - tirou um saquinho de veludo vinho de seu decote azul, afrouxou o laço da boca e delicadamente pegou cada uma das três moedas - uma moeda para cada carta. Ainda lhe resta uma - e apontou com os olhos para a carta da direita - diga-me o que vê.

- Me parece uma roleta.

- Sim, e o que ela te diz?

- Que minha vida vai virar.

- Essa é sua magia, viu como ela está em você e com qual facilidade você a maneja? Mas não seria justo você ler a carta sozinha, afinal, prometi que eu leria seu futuro se acertasse seu presente. Vamos lá. Esta é a roda da fortuna. Como você disse é uma roleta, e como toda boa roleta, ela gira e pode cair no vermelho ou no preto, vai depender do que você fez em seu passado. Quais são seus sonhos, Lucy? São sonhos vermelhos ou sonhos negros? Cuidado com o que deseja, pois o seu impulso de vida é muito forte, ele te leva para seus desejos mais profundos, custe o que custar. E em breve um novo impulso será alavancado em sua vida e as coisas mudarão de forma brutal. 

Meu sonho era ser mais do que Sarah, por mais que ela fosse linda, rica e poderosa, eu merecia ser a imperadora.

- Então seja!

- Como? Você me ouviu?

- Seja tudo o que você deseja ser!

- Serei.

- Volte um dia para me contar sobre seus caminhos - docemente se levantou da mesa e apontou para a cortina da porta - foi um prazer conhecer uma irmã do ouro.

Levantei-me e cumprimentei-a com um leve dobrar de pescoço.

- Obrigada. - E saí para a rua ensolarada.



E é esse o começo da história da Lucy, uma amiga que venho construindo. O que acharam de Lucy? E de Sarah? Ficaram curiosos para saber pra que lado a roda da fortuna de Lucy girou? Aiai, vão ter que aguardar, por que nem eu sei o que Lucy em pra me contar.

bjks e boas leituras a todos.



8 comentários:

  1. Uau, Fabi! Amei e sim, estou curiosa demais pra saber sobre o futuro de Lucy... Já percebi que vêm muita coisa legal por aí...

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    1. Que bom que gostou, Cris!

      Vem muita coisa sim e outros personagens beeemm interessantes também, aguarde.

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  2. Meu Deus, acho que Lucy é eu temos mais afinidades do que nunca. Essa história foi escrita pra mim, meu Deus. Obrigada por me proporcionar uma leitura tão agradável Fabi♥️🙏

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    1. Nossa, Kerley, que alegria ler isso vindo de você! Acho que vc vai gostar mesmo de Lucy, ela ainda está no início de sua trajetória, ainda tem muita água pra rolar debaixo da ponte.

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  3. Adorei!!!muito curiosa pra conhecer a continuação dessa história.

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  4. Que bom que gostou, Rafa! Fique de olho que logo vc saberá mais sobre Lucy
    Bjks!

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