segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

Desafio de escrita criativa - Ser normal - por Leila Jacob

Caro leitor,

Eu posso dizer com toda certeza que sou uma pessoa sonhadora, sonho dormindo, sonho acordada e sonho umas coisas inacreditáveis. Fabi bem sabe dos sonhos loucos que tenho, quando fica martelando a ideia na minha cabeça conto pra ela. A crônica que escrevi no post O sonho crônico por exemplo foi um sonho, o texto Passos escuros também veio de um sonho. Então, jovem escritor, não tenha medo de expor sua ideias e sonhos, eles dão um bom enredo.





Ser Normal

Ser normal, existe isso? Pessoas normais é o que qualquer um com algo diferente em sua vida quer ser.  A vida de Gabriel não era nada normal, ele nasceu com um dom ou maldição, entenda como quiser. Desde que era pequeno via fantasmas, pessoas que já se foram dessa para melhor, elas conversavam com ele, alguns eram legais já outros eram um terror, outros queriam ajudar com questões mal resolvidas e deixadas por razões óbvias.

Gabriel temia encontrar com uma alma recém morta, era um trabalhão, eles queriam entender a vida pós morte e por qual razão ainda não tinham ido para o céu ou inferno. E o menino não sabia explicar pois não entendia o que acontecia com as almas. De uma coisa ele sabia, nem todos que morriam viravam fantasmas, quando a avó amada de Gabriel se foi o menino pensou que teria ela por perto sempre já que via pessoas mortas, mas procurou por todas as partes e não achou um vestígio se quer de sua querida avó.

Seu pai achava que isso era uma tremenda maldição, pensava que era algum castigo do universo pelos seus erros do passado. Por não aguentar uma vida pesarosa, indo e vindo de diversos lugares para descobrir como curar seu filho, o homem abandonou a sua família com uma desculpa que ia trabalhar no interior e nunca mais voltou.

Sua mãe era uma mulher esforçada e amorosa, ajudava o filho fazendo o impossível. Levou o menino no médico que receitou uma clínica psiquiátrica e boas doses de gardenal "Isso é esquizofrenia, senhora, seu filho precisa de tratamento!". Levou o filho ao padre que logo ligou para um amigo exorcista "Creio que se padre Euzébio vir ainda hoje, amanhã essa possessão demoníaca estará longe de seu menino!". Levou o menino ao médium "Muito interessante, ainda é muito novo, pequeno Gabriel, mas se sua mãe permitir, você poderá me ajudar nas sessões".

Sua mãe não aceitava tais tolices, era tudo muito errado e para confortar o filho ela sempre dizia.

- Tudo bem não ser normal, querido.

Nada disso era o que Gabriel queria, ele queria uma solução para parar de ver pessoas mortas. Ele não estava louco, possuído ou precisando de um trabalho. Ele queira ser normal, queria ir na escola e não passar vergonha por esta falando sozinho, queria parar de tomar sustos com fantasmas o observando tomar banho, queria não rir quando os fantasmas zombavam dos vivos. Ele queria ser normal.

 Já adolescente, Gabriel aprendeu a lidar com sua vida diferente, sabia correr de recém mortos, sabia dizer não a fantasmas com questões deixadas para trás, sabia desviar os olhos de algum novo fantasma que aparecia em sua vida.

Arrumou um emprego de meio período para ajudar a mãe com as contas, ia para a escola de manhã e de tarde trabalhava num mercadinho do bairro. Algumas vezes Seu José, dono do mercadinho, confiava ao menino a responsabilidade de fechar o marcado. 

- Gabriel, hoje vou ter que chegar mais cedo em casa, você pode fechar o mercado pra mim?

- Claro, Seu José, pode deixar comigo!

- Ok, só não demore demais arrumando as prateleiras, deixa pra amanhã, tchau e obrigado.

Gabriel fechou o mercado e ficou até tarde arrumando alguns produtos nas prateleiras, queria terminar o serviço para não ter que fazer no dia seguinte.

Quando de repente, viu uma moça acenando na janela de vidro do mercado, ela não era um fantasma, não estava pálida e tinha sombra. Gabriel então decidiu ir ver o que a moça queria.

- Moço, sei que o mercado já fechou, mas eu preciso muito comprar umas coisas, abre uma exceção pra mim!?

Suplicou com olhos pidões, ela era bonita, olhos escuros, morena e um emaranhado de cabelos crespos em um coque. O menino subiu a porta de correr e deixou a moça entrar.

- Obrigada, prometo ser rápida!

Seguiu para o corredor pegando milho de pipoca, leite condensado e refrigerante. Veio para o caixa saltitante e sorridente. Gabriel achou graça da moça feliz, até que viu os olhos da menina assustados olhando para o ombro dele, ele seguiu na direção em que ela olhava e viu um rosto pálido, roxo e sem vida de Seu José.

A moça ficou sem jeito e tentou disfarçar.

- Vamos moço, passe minhas compras.

Gabriel não sabia se continuava olhando para o recém morto ou se questionava a moça se ela estava realmente vendo aquilo. Ela estava vendo, era o olhar de ter visto um fantasma. Gabriel disfarçava do mesmo jeito que ela, até que Seu José se manifestou:

- Seus idiotas, eu sei que estão me vendo!

Naquele momento Gabriel desejou com todas as forças ser normal.


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2 comentários:

  1. Que texto, Leila! Parabéns, sabe q me lembrou um pouco a vida do medium Chico Xavier. Ele também queria ser normal <3

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    1. Que bom que gostou Lu!
      Tudo que é fora da casinha dizem ¨Não é normal¨, mas tudo bem não ser normal ;)

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