sexta-feira, 8 de janeiro de 2021

Desafio de escrita criativa "Diário de um botânico" - por Fabi Sanchez

 Olá, povo que lê!!

Estamos na reta final dos nossos desafios de escrita criativa, heim pessoal?! Fique de olho no blog porque já tem outros projetos bem legais no forno que virão logo após deste, não percam!

Mas enfim, o desafio desta semana é um tema que eu adoro: Contos de fadas! A ideia é reescrever um dos contos tradicionais, não sei se vocês se lembram, mas em julho de 2015 eu escrevi um texto baseado no conto "A princesa e o sapo" que se chama O sapo . Mas sejamos originais e vamos revisitar outra famosa história maravilhosa com uma roupagem bem diferente da original, espero que gostem.


imagem tirada de http://helenaconectada.blogspot.com/2012/11/diario-intimo.html em 27/10/2020




Diário de um botânico

Lion, sexta-feira, 1 de maio de 2020.

Como anotado nos relatos passados, a mistura entre as enzimas da hortelã, lavanda e camomila ainda precisam de um quarto elemento para que a fórmula do sono perene se concretize.
Preciso achar a ligação entre o mentol, o acetato de linalila e o camazuleno, falta-me descobrir a substância de potencialização entre os elementos e não perder mais meu tempo com as críticas imaturas dos meus colegas de pesquisa, principalmente Oliver, que vive me dizendo que tenho fixação pela Bela Adormecida.
Se descubro o que acontece nos cantos remotos das florestas de Auvergene, onde ocorrem as lendas, com certeza terei sucesso em minha fórmula e finalmente a França voltará aos destaques científicos mundiais adormecendo o covid-19 e calando a boca dos demais colegas de Bernard Lyon I
Parto na segunda-feira por minha pesquisa solitária.
Os registros no fim de semana não serão feitos pois os preparativos para a viagem serão muitos.

Aix-les-Bains-le-Revard, segunda-feira, 4 de maio de 2020

(6h)

Rumo a Parc naturel régional du massif des Bauges, relevo montanhoso, espero encontrar o local da lenda do sono, desembarcarei a oeste, rumo a leste.
A estalagem é simples, mas aconchegante, porem pouco ficarei nela, vou recolher apenas alguns relatos ainda hoje e amanhã para quarta buscar meu material de pesquisa para explorar as trilhas do parque.

(18h)

O que diria Oliver se escutasse as estórias que escutei hoje no salão de convivência da estalagem? Dou risada só de pensar, mas enfim, a névoa misteriosa citada pelos populares pode ser exatamente o que eu procuro: a condição climática exata para a erva que me falta para a fórmula paralisante do covid-19.
Disseram-me que se eu sentisse a névoa, escutasse lobos e visse uma mulher ruiva, voltasse imediatamente, me ofereceram um guia. Neguei, obviamente, pois é exatamente os conhecimentos da tal mulher que preciso adquirir. Amanhã cedo saio para a exploração.

Floresta de Auverge, terça-feira, 5 de maio de 2020

(10h)

Uma breve parada no início da caminhada para relatar que saí cedo da estalagem e já me encontro há uns oito quilômetros floresta adentro. Floresta esta que até então vinha sendo formada por bosques com pequenas clareiras, porem agora se inicia um trecho com várias árvores antigas e retorcidas, percebo pelo grosso de seus troncos, texturas das cascas rugosas e altura de algumas que devem atingir o tamanho de 10 homens. Vou continuar pela floresta para tentar achar o castelo de névoa que tanto mencionam nas estórias populares, se o encontro, também encontro a losna que cresce em seus muros externos que, creio eu, diferente das losnas comuns, tem como função combater o vírus, e não vermes.

(11h)

Há algum tipo de pássaro muito semelhante ao beija-flor, que passa rasante à minha cabeça vez ou outra, assustando-me. Ainda não consegui identificá-lo e nem mesmo vê-lo com nitidez, pois é muito rápido e pequenino.

(13h)

O sol vai a pino, mas a temperatura da floresta é muito amena, estou em uma parada para uma refeição rápida. Vou aproveitar para olhar de perto os arredores, pois, por vezes, me pareceu estar sendo seguido. Não sei explicar, é uma sensação estranha, como se alguém me acompanhasse, observando meus passos por entre as árvores.

(13h30m) 

Não encontrei nada. Estou alimentado. Sigo em frente.

(16h) 

Por várias vezes durante a tarde os pequenos pássaros fizeram rasantes sobre mim e a sensação de estar sendo seguido continua, mas creio ser tudo ansiedade para encontrar o que acabo de achar. Vejo ao longe, sobressaindo-se entre as copas das árvores um telhado em cone, cobrindo uma estrutura alta. Assim que o avistei, uma forte névoa começou a levantar-se do enorme lago o qual estou margeando por mais de 1 quilometro. Vou me equipar de lanterna e bússula para continuar em direção da estrutura, pois o gps parou de funcionar juntamente com meu celular e relógio após o início da névoa, deve ter sido a umidade.

(18h)

Impossível continuar, a neblina é muita, vou montar o acampamento ao lado do lago, creio estar muito próximo do castelo, mas é mais seguro continuar amanhã.

Lion, sexta-feira, 15 de maio de 2020

Acordei ontem e me encontrei num leito no HCL (Hospital da Universidade).
Demorei para entender onde estava e o que havia me acontecido. Na verdade resolvi retomar o diário para por os pensamentos em ordem e anotar tudo o que lembro e tentar entender o que aconteceu.
Sinto-me perfeitamente bem, porem tudo está muito confuso.

Lembro-me de que enquanto eu armava o acampamento, um dos seres que eu pensava ser um pequeno pássaro, parou, planando, diante de meus olhos, bem no meio deles, na verdade, um palmo diante de mim, literalmente na frente de meu nariz, não tinha como eu não ter visto com mais nitidez. Um pequeno hominídeo, lilás, de orelhas grandes e finas que mais pareciam antenas, de longos e finos dedos dos pés e das mãos com um corpo muito curto e esguio e asas translúcidas verde esmeralda, me olhava dentro da retina, com um olhar dourado, pacífico penetrante e dominante.
Senti-me paralisado, como se um veneno tivesse me mobilizado. Comecei a sentir minha cabeça girar, os lábios ficarem dormentes, as pernas moles e tudo escureceu. Penso ter desmaiado. Por quanto tempo fiquei inconsciente? Não sei responder. Me pareceu rápido, como se eu tivesse dado uma longa piscada como para por os pensamentos novamente nos trilhos racionais, ou dentro do pensamento racionalmente lógico. Abri meus olhos ao escutar um longo uivo muito próximo a mim e sentir minha boca sendo molhada por algo quente, úmido e mole. Ao enxergar o que me beijava, me deparei com dois olhos profundamente vermelhos, e soube naquele momento que eram aqueles os olhos que me observaram durante todo o tempo que caminhei pela floresta. Um focinho comprido escondia metade da língua que me beijava e fazia escudo de uma enorme pelagem dourada: "acorde, adormecido, este é o meu beijo do acordar do sono perene" a voz daquela fera entrou sem som em minha mente e eu tomei a consciência da nova realidade que me cercava. Não tive medo. Sentei-me com calma sem conseguir me desfazer do olhar do lobo dourado, sabia que poderíamos nos comunicar.
- Quem é você?
- Sou quem você procurava, o destino de seus sonhos mais profundos, relaxe e deixe-se levar.
Obedeci e meus ombros caíram. Senti uma brisa ao meu redor e percebi que era o farfalhar de várias asas esmeraldas de muitas fadas iguais a primeira que havia visto minutos atrás e comecei a flutuar  parecendo-me esta ser uma ação tão normal como caminhar. 
O lobo dourado foi indo em direção ao lago e o enxame de fadas, lentamente, me fez flutuar seguindo o lobo que, aos poucos foi caminhando cada vez mais fundo adentrando as águas até ser coberto por inteiro. De repente, deixo de planar e caio no meio do lago e me sinto inapto a nadar. Parece que anos de natação me afundavam cada vez mais e, ao afundar, agarrei-me em longos e sedosos cabelos ruivos, tão vermelhos quanto os olhos do lobo dourado, e ao achar a cabeça de toda aquela cabeleira, abri minha boca de espanto ao me deparar com a mulher mais Bela que já havia visto em toda minha vida. Ao abrir a boca senti a água entrar em meus pulmões e o que eu conhecia até então do que era vida começou a se esvair. Fechei os olhos e pensei: acabou. 
Adormeci.
Por quanto tempo? Não sei. Mas dormi como há muito tempo não dormia, um sono restaurador, sem sonho. Mas um cheiro inebriante, doce, vermelho, me acordou como despertam as meninas para serem mulheres; como menarca. Eu estava deitado numa cama protegida com pesadas cortinas verdes com arabescos dourados, ao fundo via um vitral de cores diversas e brilhantes emoldurado por uma parede de blocos de pedra. Mas minha atenção desviou-se completamente para ela:
- Bom dia, adormecido.
- ...
Colando suas unhas negras suavemente sobre meus lábios sussurrou:
- Não fale, não pense, apenas sinta seu coração bater, vivo, pulsante, e respire, como nunca respirou antes.
Um ar cortante e revigorante entrou em meus pulmões recarregando meu corpo de um novo conhecimento.
- Esta é a losna do sono perene.
E quebrou um pequeno cacho de seus cabelos guardando-o entre meu peito e minha camisa. Encostou seu lábio-focinho no meu e lambeu meu ouvido com um uivo agudo e penetrante. 
E acordei aqui, no hospital. 
É isso, o cabelo da Bela!

Lion, 27 de junho de 2020

Claro que não falei exatamente como consegui a losna do sono perene, se Olivier soubesse dos detalhes, arruinaria toda a pesquisa para a cura do covid-19. Apenas disse que encontrei nas pedras do muro de um castelo que beirava um lago na Floresta de Auverge e que não sei a localização graças a umidade de uma névoa que destruiu todos os meus aparelhos eletrônicos.
Mas o importante é que a banca resolveu estudar a fundo toda a teoria que expus a eles e que adquiri ao respirar o amor da minha vida: A Bela Adomecida.


Espero que tenham gostado, e ficamos por aqui, esperando que a cura do Covid-19 saia dos contos de fadas e se torne realidade.


Um comentário:

  1. Que demais, Fabi! Muito criativo😻😻😻
    Sim, vamos torcer para 2021 ser de boas notícias, sendo a cura do covid a mais esperada.

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