domingo, 11 de outubro de 2020

Desafio de escrita criativa: A Operária -por Leila Jacob

Caro leitor,

Confesso que fiquei bem balançada com o desafio da semana, tive bons professores de arte na minha vida escolar. Lembro da querida professora Adriana que era fã incondicional de Romero Britto e Tarsila do Amaral. Ela sempre pedia para os alunos copiar os desenhos de ambos artistas e falava sem para da semana de arte moderna. Espero que a senhora esteja bem onde estiver professora Adriana, você provavelmente não iria lembrar dessa humilde aluna, mas marcou minha vida.

O tema da semana é: Baseie-se em uma obra de arte. Use a historia que ela apresenta como referencia.

Escolhi Operários da Tarsila Do Amaral, que foi pintando em 1933 depois da sua vinda da antiga União Soviética e perda de bens depois da crise de 1929. Inspirou-se na chegada das industrias no estado de São Paulo, o país estava trazendo com força o capitalismo e sem leis trabalhistas como as de hoje.

Operários, Tarsila do Amaral.



Os dias não eram mais meus e sim da rotina que me consumia, uma grande crise havia acontecido não só no mundo mas dentro de minha alma. Ela consumia com todo amargor a alma que antes mal sabia que habitava nessa casa, eu.

Antigamente achava que a dor era quando se cortava o dedo descascando um legume ou até mesmo quando alguém lhe batia, dor é física e ponto.
Eu tinha casa, marido, empregados e dinheiro.
O que mais me doeu perder?
Bem é difícil dar uma resposta quando se perde tudo repentinamente, mas posso afirmar que o marido não me faz falta, ter ele em minha vida era para suprir as fraquezas da carne.
Mas sinto falta do dinheiro, ele era um bom companheiro.
Agora devo trabalhar.

Levanto com pesar da cama, sei que preciso levantar, trabalhar dessa forma é algo que nunca na vida imaginei mas tinha coisas que valiam a pena, coisas que me faziam sorrir com os lábios, os dentes guardo para tempos mais fáceis.
A grande fabrica de tecido onde eu comparecia somente para viver dignamente, se é que eu poderia dizer assim, tinha diversas pessoas vindas de todos os cantos do pais.
A querida São Paulo recebia todos de braços abertos, mas logo largava na primeira viela escura e úmida mostrando que para brilhar deveria mostrar força e coragem.
Trabalhar e trabalhar sem parar.

Saio de casa com o uniforme, um vestido cor de cinza de mangas compridas.
A única coisa que me sobrou de antes da depressão foi uma bolsa de couro preta que havia comprado em Paris, usava com diversos Tailleur.
Se hoje tenho 5 vestidos é muito para a condições que sobrevivo.
Trabalhando sem parar.

Apesar de muito reclamar tento achar graça na vida, vejam bem, adoro ver as mulheres da ala de tintura indo flertar com os rapazes da ala do recorte. No momento que vou comer aproveito para observar essas historias cotidianas e fumo como se nunca tivesse colocado um cigarro da boca.
O cigarro é dado como uma cortesia diária de um amigo, funcionário de um restaurante, um italiano que sempre sorri quando me vê sentada na calçada da fabrica.

Eu poderia casar com ele, poderia se tudo fosse diferente.
Ele era jovem e bonito e eu velha mas tinha classe, com certeza ele iria me trair.
Mas se ele tivesse dinheiro não seria mau negocio.
Cigarros não compram Tailleur.
 
Todos os dias ele vinha todo sorridente com uma bituca de cigarro na mão e gritando "Primadonna!". Era o momento doce do dia um belo moreno gritando no meio da rua.
E eu sendo uma primadonna.
Depois indo trabalhar sem parar.

Eram tempos difíceis, mas não iria abandonar minha bolsa de couro e muito menos o cigarro diário que o italiano me compra, nem mesmo sua companhia.
De tarde volto para a casa somente com a bolsa, o amargor volta com força.
Era sempre assim, todos os dias.
Trabalhando.

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